Isso porque as tecnologias existentes no mundo para produzir esses materiais cartográficos, que podem ser lidos por meio do toque por pessoas cegas ou com baixa acuidade visual, ainda são muito sofisticadas e caras, o que impossibilita sua utilização em salas de aula de escolas públicas no país.
Mas, nos últimos anos, pesquisadores de algumas universidades no Brasil e de outros países têm se dedicado ao desenvolvimento de materiais didáticos simples, adaptados para a linguagem cartográfica tátil, que podem ser facilmente utilizados por professores e alunos do ensino fundamental e médio.
As experiências dos principais grupos de pesquisadores do Brasil e do Chile que realizam estudos na área de cartografia tátil são narradas no livro Cartografia tátil: orientação e mobilidade às pessoas com deficiência visual.
A publicação reúne artigos de pesquisadores da Universidade Tecnológica Metropolitana de Santiago do Chile (UTME), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de outras instituições.
“Apesar de materiais cartográficos táteis serem produzidos desde o início do século 19 em nível mundial por professores, pais e voluntários, essa área ainda é pouco conhecida no Brasil e na América Latina, mesmo no meio acadêmico”, disse Maria Isabel Castreghini de Freitas, professora do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, e uma das organizadoras do livro, à Agência FAPESP.
Por meio de um projeto de pesquisa, realizado com apoio da FAPESP, os pesquisadores da Unesp de Rio Claro desenvolveram nos últimos anos maquetes, mapas e jogos didáticos, adaptados para a linguagem cartográfica tátil.
Os materiais possuem relevo e diferentes texturas, além de sinalizações em braile e recursos sonoros, para facilitar o aprendizado de alunos com deficiência visual.
Já os materiais didáticos para os estudantes com baixa acuidade visual possuem cores fortes e tamanho de letras aumentadas e podem ser utilizados tanto por deficientes visuais como por alunos que não possuem problemas de visão, visando a integração dos estudantes em sala de aula.
“O objetivo é que esses materiais táteis sejam utilizados em atividades e aulas integradas, reunindo estudantes cegos ou com baixa visão com os que enxergam, conforme as diretrizes das atuais políticas de inclusão de alunos com necessidades especiais na educação infantil e no ensino fundamental”, explicou Freitas.
Inicialmente, os materiais são desenvolvidos em laboratório, com base no conteúdo dos cursos de geografia nos diferentes níveis do ensino. Depois são levados para escolas com alunos cegos ou com deficiência visual, para serem testados e aprimorados com ajuda dos próprios estudantes e dos professores.
Noção de espaço
Aos professores são oferecidos cursos de formação, em que eles aprendem a utilizar o programa de computador Mapavox, que possibilita incluir dispositivos sonoros em maquetes e mapas.
O software foi desenvolvido pelos pesquisadores da Unesp em parceria com José Antonio dos Santos Borges – pesquisador do Núcleo de Computação Eletrônica (NEC) da UFRJ, que criou o primeiro sistema para auxiliar pessoas cegas a usarem computador, o Dosvox.
“Quando desenvolvemos os materiais, percebemos que eles eram um pouco limitados em termos de possibilidade de exploração pelos alunos cegos ou com baixa acuidade visual e que, se além das diferentes texturas eles possuíssem som, seria possível aumentar a interação dos estudantes com os materiais. Por isso, procuramos o professor Borges e propusemos que ele desenvolvesse um sistema de materiais didáticos com recursos sonoros”, contou Freitas.
Por meio de comandos específicos, o sistema computacional permite acionar sons em uma maquete, mapa ou um jogo didático conectado a um computador, facilitando a orientação de um estudante cego na exploração do material didático que, até então, só ocorria pelo tato, ampliando suas possibilidades de percepção e sua compreensão do espaço.
Ao percorrer uma maquete de uma praça central de uma cidade, por exemplo, o estudante pode tocar botões que emitem sons do sino de uma igreja, do barulho de uma fonte de água e da música tocada pela banda de um coreto.
“São mensagens e sons curtos que têm algum significado para estudantes cegos. Nosso maior desafio neste trabalho é entender como eles adquirem a noção de espaço, que é fundamental no ensino de geografia”, disse Freitas.
“Para isso, começamos utilizando maquetes da sala de aula, da casa e do caminho que percorrem para vir à escola de modo a entender como concebem o espaço e o ambiente ao seu redor”, disse.
- Cartografia tátil: orientação e mobilidade às pessoas com deficiência visual
Organizadores: Maria Isabel Castreghini de Freitas e Silvia Elena Ventorini
Lançamento: 2011
Mais informações: http://loja.livrariadapaco.com.br/cartografia.html
Por Elton Alisson
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