Carla Bruni e Michele Obama, as rainhas
Carla Bruni e Michelle Obama são conhecidas internacionalmente por serem primeiras-damas de dois dos países mais desenvolvidos do mundo. Porém, mesmo quando seus maridos saírem do poder e apenas os historiadores se lembrarem de Nicolas Sarkozy ou Barack Obama, os nomes de suas esposas permanecerão eternizados. No seio da democracia, as duas viraram rainhas. E, como toda rainha que se preza, receberam um título pomposo: Laelia purpurata var. Flammea ‘Carla Bruni’ Hort. Ex L. C. Menezes cult. nov. e Laelia purpurata var. werkhaueserii-striata ‘Michelle Obama’ Hort. Ex L. C. Menezes cult. nov..
A pessoa capaz de transformar primeiras-damas em rainhas é a analista ambiental e chefe do Orquidário Nacional do Ibama, Lou Menezes, uma das mais respeitadas pesquisadoras de orquídeas do mundo, que também é engenheira florestal e bióloga com habilitação em botânica e ecologia. “Laelia purpurata é conhecida como a rainha (das orquídeas). Em minhas descobertas, resolvi homenagear três mulheres rainhas”. A terceira homenageada é Maria Tereza Jorge de Pádua, ex-presidente do Ibama e da Funatura, além de ter sido membro da WWF e da IUCN. Segundo Lou, Maria Tereza é a pessoa diretamente responsável por, sozinha, criar as maiores áreas de proteção ambiental do mundo, tendo participação decisiva no estabelecimento de 15 unidades de conservação no Brasil, que cobrem mais de 15 milhões de hectares.
Livros
As fotos desses cultivares estão no novo livro da pesquisadora, “Laelia purpurata, A Rainha”, lançado em julho, em Santa Barbara/EUA, num grande evento internacional para colecionadores, pesquisadores e paisagistas, que ocorre todos os anos. “Esta é a flor de Santa Catarina, único estado brasileiro que tem uma orquídea como símbolo”, explica Lou. Ela acrescenta que, pela planta ser reconhecida mundialmente por sua beleza e perfume, o nome extrapola a espécie e é usado como marketing da indústria, sendo colocado em vários produtos, como perfumes e sapatos.
Lou Menezes já lançou outros seis livros e tem previstos mais dois para o ano que vem: um sobre Cattleya walkeriana, orquídea do Brasil Central “extremamente procurada e enaltecida no exterior, principalmente nos países asiáticos” e outro com o nome de Orquídeas de Brasília, para comemorar os 50 anos da capital do país. Segundo ela, foram os livros que tornaram-na conhecida no mundo. O primeiro foi sobre Cattleya labiata, espécie do nordeste brasileiro. “Esta orquídea é muito importante porque deu origem, no exterior, ao hibridismo com plantas de flores grandes e cores diversas”, informa, frisando que as pessoas no Brasil não souberam, durante muito tempo, o valor de sua importância no contexto mundial das orquídeas. A chefe do orquidário estuda orquídeas em seus diferentes gêneros. “Meu objetivo é divulgar e preservar as orquídeas brasileiras por meio de livros”, revela.
Orquidário e trabalho
O local principal onde realiza suas pesquisas é o Orquidário Nacional do Ibama, que surgiu em 1984 e era apenas uma tenda. Ao longo desses anos, a estrutura ganhou corpo e uma bela arquitetura em madeira, tela e vidro. Atualmente, existe, no centro, uma coleção de mais de dois mil exemplares, inclusive de plantas raras ou extintas na natureza. O orquidário é a infra-estrutura do Projeto Orquídeas do Brasil, que abriga as coleções, as quais vão aumentando de acordo com as pesquisas. Cada subprojeto tem o objetivo de produzir um livro. “Povo sem livros e bibliotecas não tem memória. Neste sentido, meus livros são um legado às gerações futuras”, admite.
“Conheço doutores em orquídea que vivem em estado compulsivo de intenção de pesquisa e nada produzem. De que serve o conhecimento para ficar guardado numa gaveta?”, critica. Além das pesquisas, Lou é também colaboradora na emissão de selos para os Correios do Brasil com textos explicativos e fotos, profere palestras no Brasil e no exterior como convidada de instituições, e tem dois projetos especiais: propagação artificial de espécies nativas e um programa de educação ambiental nas escolas voltado para crianças. Em relação ao primeiro projeto, orquídeas extintas na natureza são polinizadas no Orquidário Nacional do Ibama, preparadas e mandados os casulos para laboratórios, que se incumbem de transferir as mudas para dar continuidade às espécies. Quanto à educação ambiental, é um projeto do coração. “No meu entender, o futuro do planeta depende das crianças e das florestas”, informa.
Descobertas e homenagens
Natural de São Luís do Maranhão, a analista ambiental veio para Brasília com 13 anos. Por causa de sua eloquência, muitos da família esperavam que fosse jornalista ou diplomata. “Herdei a verve comunicadora de meu pai”, revela. No início da adolescência, foi “picada” pelo fascínio pelas orquídeas. Ela diz que durante a faculdade escreveu alguns artigos, mas apenas quando entrou no antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, um dos órgãos que originou o Ibama, em 1982, é que começou a trabalhar com as família orquidácea. “À luz da ciência, descobri quase uma centena de orquídeas novas, descritas e registradas por mim nas revistas especializadas nacionais e internacionais. Hoje em dia, qualquer livro de orquídeas que sai no exterior cita meu nome como referência nesse campo”, avalia.
Além das “rainhas”, ela homenageou o ex-presidente russo Gorbachev, prof. Lutzemberger, Pe. Gonzales (“botânico, culto e meu professor de latim”) e o Ibama, além de outras personalidades, batizando algumas de suas descobertas com essas alcunhas. Mas também foi muito homenageada por outros pesquisadores. “Há várias orquídeas com meu nome”, conta. Ela lamenta, por outro lado, as orquídeas que nunca receberão designação. “As orquídeas, de maneira geral, estão ameaçadas de extinção, pois os ambientes naturais têm sido depredados para a construção de cidades e barragens, áreas agrícolas e de pastoreio. Não sabemos quantas desapareceram sem sequer serem classificadas, muito menos estudadas. Sumiram”. Para a chefe do orquidário, a preservação se faz em progressão aritmética e a devastação acontece em progressão geométrica.
Reconhecimento
Lou Menezes cresce nas adversidades. “Sou muito crítica e atarefada. Mas, se não houvesse barreiras, talvez não produzisse como tem acontecido”, analisa. Ela recebeu vários prêmios internacionais em reconhecimento ao seu trabalho (Prêmio Conferência Mundial de Orquídeas – Miami, 2007 – a melhor palestra; Prêmio Excelência, pela revista Orchid Digest, em 1990, a maior publicação sobre orquídeas do mundo; e a Grande Medalha de Reconhecimento pelo Meritoso Trabalho de Pesquisa no Mundo das Orquídeas, em 2006, pelo Orchid Digest Corporation, que só é dado às pessoas que mais se destacam no mundo – a única brasileira a receber). Além disso, foi capa na Orchid Digest e apareceu em publicações da Rússia, África do Sul, Alemanha, Estados Unidos e de vários outros países.
Segundo ela, não existe uma orquídea pela qual não seja apaixonada, apesar de ter certa predileção pelas do gênero Cattleya e Cyrtopodium. Mas a rainha Laelia a fascina de maneira inexplicável.
Para muitos, Lou Menezes é espécie rara e única, como várias das orquídeas que estuda. “Tenho dependência emocional dessas plantas”, revela. Mesmo que ela afirme isso, há apenas uma palavra para descrever essa relação: simbiose.
Fonte: Ascom Ibama
Luis Lopes
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quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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