Boa Vista (Roraima) - Na comunidade do Maturuca, na região de montanhas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o sábado (17) foi de preparativos. Desde quinta-feira (15) indígenas de toda a região da reserva comemoram a homologação da demarcação em área contínua da área, confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) há pouco mais de um ano.
Até amanhã (19), Dia do Índio, a organização da festa espera agrupar 18 mil indígenas para receber a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na aldeia. Instalados em grandes malocas, com espaços para pendurar redes, os indígenas que chegaram – cerca de 5 mil, de acordo com a organização – participam de apresentações típicas das etnias Macuxi, Taurepang, Wapixana, Ingaricó e Patamona e de competições esportivas tradicionais, como corrida de toras e arco e flecha.
O ingaricó Gelson Martins vive em uma aldeia onde só se chega de avião, isolada no pé do Monte Roraima, na fronteira do Brasil com a Guiana e a Venezuela, mas fez questão de participar da festa da homologação.”Na época [da decisão do STF], a notícia demorou a chegar lá, fizemos uma festa também, mas essa aqui é mais importante, com todo mundo junto”, disse.
“Pediremos agora que o dinheiro destinado aos povos indígenas apareça no dia a dia das comunidades”, completou Martins. Um grupo de lideranças deve ter uma reunião fechada com Lula na segunda-feira.
Instalados no Noroeste de Roraima, longe de Raposa Serra do Sol, um grupo de indígenas Yanomami também veio comemorar a conquista da terra pelos parentes. Marino Yanomami pegou dois ônibus para chegar.
“Viemos conhecer a festa deles, as tradições deles. São diferentes dos Yanomami, mas é tudo muito bonito e alegre também. Foi uma luta muito grande, é bom ter alegria agora”.
Além de Marino, 27 yanomamis representarão a etnia na festa. Os anfitriões Macuxi são maioria no estado e na região de 1,7 milhão de hectares.
A comemoração mudou a rotina do Macuxi Edmilton Pereira, de 19 anos, que já separou o traje típico para vestir no dia do encontro com o presidente. Nascido na comunidade do Maturuca, Edmilton fez questão de mostrar o novo projeto desenvolvido na aldeia: uma horta mandala, sistema de produção com canteiros em traçados circulares com um reservatório de água no centro.
O projeto foi implantado por ele e outros quatros jovens índios, estudantes de uma escola técnica agrícola na Vila Surumu, na entrada da terra indígena. Orgulhoso, ele mostrou os canteiros de hortaliças, plantas medicinais e temperos enquanto refletia sobre o motivo da comemoração em sua comunidade.
“Esperamos muito tempo por essa terra digna, verdadeiramente nossa, para trabalhar com nossos pais e nossos filhos. Sofremos muito com os invasores. Comemorar a homologação é muito importante para nós”.
Fonte: Agência Brasil
Reporter: Luana Lourenço
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