terça-feira, 17 de julho de 2012
Música de Minas
Por: Geraldo Vianna
.Para músicos, produtores e interessados no assunto...
Caros amigos,
Em Minas Gerais, na arte (música especificamente), existe um fenômeno digno de estudo mais aprofundado: fazemos uma música considerada especial e ao mesmo tempo não conseguimos dar vazão à grande produção de CDs, DVDs e produtos em geral, além de não termos uma tradição de agenciamento de artistas.
Talvez a grande vilã da história seja a massificação que se apodera de nossos anseios fazendo-nos sucumbir a algumas ideologias e outras artimanhas do mercado nas políticas culturais da atualidade, com objetivos diversos, porém pouco artísticos. Mas com grande força de persuasão, devido às promessas ilusórias às quais somos expostos no dia a dia.
Parafraseando livremente Agripa Vasconcelos: “...desviam o curso das águas do rio para facilitar o garimpo de grandes diamantes que surgem em seu leito, esquecendo-se que nesse desvio morrem peixes e plantas, entre outros, que influenciarão a degeneração da fauna e flora”.
A mídia e o sistema em geral parecem gigantescos diante de uma aparente pequenez de tudo que fazemos. Redes sociais e projetos grandiosos nos sufocam e nos afastam, sob o pretexto de nos aproximar. Não se aprimora. Fala-se somente em mudar. Tudo isso está nos levando, sem exceção, à competição como regra básica para nos manter ativos em nosso meio. Artista versus sistema tornou-se uma tônica nas discussões de classe. Esquecemo-nos da importância da discussão desprovida de arrogância e interesses amparados pelo egocentrismo. Buscamos as realizações pessoais, quer seja na aceitação coletiva ou cumplicidade de opiniões. Esquecemo-nos que, a priori, a “matéria prima” que possuímos e a “arma” de combate que usamos são subjetivas e têm, em sua essência, que atender aos nossos anseios e desejos puros de criadores, motivo que muitas vezes nos confunde.
Precisamos de um discernimento maior acerca dos valores culturais que buscamos e desejamos para nós e para as gerações futuras. Percebemos hoje, lamentavelmente, que até mesmo alguns dos “defensores” de nossa classe subestimam nossa criação e tentam nos incutir uma falsa ideologia artística baseada em instrumentos que não nos levarão, jamais, à conscientização e possibilidade de viver de nossa criação. A politização da arte, poderá nos levar a grandes equívocos. A solução encontra-se na mediação e adequação dos valores essenciais que regem os preceitos de foro íntimo e a realidade que permeia o cotidiano no país.
Fala-se muito em formação de público sem buscar ações que visem à conscientização da necessidade do bem cultural como alimento no dia a dia. Estamos apenas, na maioria dos casos, disponibilizando acesso a eventos e investindo em uma pseudocultura ditada por modismos e tendências mercadológicas que visam atingir grandes massas. Há uma transferência de responsabilidade social para os artistas, com o consentimento de todos nós, em troca de pequenas atuações coletivas que desviam a sensibilização dos valores musicais de teor individual – marca de nossa criatividade – desenvolvida ao longo dos anos. Atacamos órgãos e representações que se encontram na linha final, sem perceber que fazemos acordos e conchavos com estruturas que nos levam à banalização do debate e da cultura de um modo geral, no percurso.
Lembrando sempre que cultura não é somente a arte. Ter cultura é experimentar tudo que nos cerca, com arte.
Transferência, também, de responsabilidade, não nos trará benefícios. Não aconteceremos e sobreviveremos, enquanto músicos, por ações políticas e pequenos privilégios. Ser músico é um exercício de cidadania: direitos e deveres. Mas devemos considerar que, na música, torna-se fundamental o respeito à liberdade de ideias e a busca pacífica de soluções. Não reconstruiremos a consciência cultural partindo da demolição do que existe, mas sim da discussão profissional, troca de informações e adequação das ideias. Antes de tudo, o respeito às ideologias, às experiências prévias regidas pela paciência e persistência. Um cuidado especial com o anarquismo.
Sabemos que a já tão massacrada expressão “investimento em educação” continua como líder do ranque na melhoria de conhecimento e desenvolvimento da sensibilidade para a verdadeira arte. E para a vida. Entenda-se como verdadeira arte aquela que visa o bem estar de toda a população, disponibiliza acesso a bens e eventos culturais, sociabiliza, educa e cria compromissos entre o fazer e o usufruir. Que leva as pessoas à condição de opinar e escolher, sem influência da massificação exacerbada da mídia de nosso tempo. Que dá autonomia e condição intelectual básica a toda a população para “separar o joio do trigo”. Esses aspectos somados à experiência prévia, por meio de influência familiar, hábitos de grupos e ambiente em que se é criado, somente eles, nos levarão à conscientização do sentido da cultura em nossas vidas.
Não há vilões nem mocinhos nessa área. Todos acreditam no que fazem e buscam o que acreditam ser o melhor. Não devemos tentar nos sobrepor às iniciativas sem uma discussão suave e desprovida de arrogância e autoritarismo. Vamos aproveitar os recursos atuais e formas de comunicação, via internet, para, pacificamente, sem ônus ou bônus para os interlocutores, buscar alternativas para dias melhores para os profissionais da música em nosso estado. Tudo hoje é efêmero. As redes sociais nos impõem um prazo de validade muito curto. O “olho no olho” ainda é a melhor forma de buscar soluções. Ou então estaremos fadados a viver sob o crivo da mediocridade filosófica que impera nesses ambientes.
Não existem fórmulas e tampouco acredito que seja fundamental, em princípio, um engajamento político para a solução desses problemas que considero tão importantes quanto as questões de saúde pública. Acredito, antes de tudo, na conscientização dos profissionais da música e da área de produção, para, a partir daí, buscarmos soluções.
Partindo dessa prerrogativa, que cada um trabalhe para se impor no mercado ou, melhor, para mostrar o que faz e viver do que faz. Vamos nos abrir às discussões e acreditar com firmeza naquilo pelo qual doamos nossa vida e nossos sonhos. Não deixemos que o “rio” seja desviado. Vamos buscar nossos diamantes no mais fundo de nossa criação e investir na boa vontade para a busca de soluções para a classe.
O aprendizado é construído no dia a dia e os frutos colhidos no tempo certo.
Um abraço para todos!
Geraldo Vianna
Violonista, compositor e produtor musical
P.S. Por favor, divulguem e compartilhem. Críticas e comentários (de bom nível) sempre serão bem vindos.
Comente e passe pra frente!
Marcadores:
arte,
artistas,
cultura,
mídia,
Minas Gerais,
Musica,
público,
Redes sociais
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Gostei muito do descritivo da situação atual . Podemos transformar isso sim e divulgar
arte musical de qualidade contem comigo.
Pedro Pugliese
Postar um comentário