Folia de Reis mantém tradição popular em Planaltina (DF) Morillo Carvalho
Repórter da Agência Brasil
Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Planaltina (DF) - Moradores da cidade-satélite mais antiga do Distrito Federal participam das comemorações em torno da Folia de Reis, em homenagem aos Três Reis Magos. Além das rezas, há cânticos e danças regionais, como a catira, que são apresentados a pedido do dono da casa que recebe os foliões e a bandeira sagrada.
Brasília - Pela tradição, hoje (6) é dia de desmontar a árvore de Natal, retirar as luzes e os enfeites da casa e retomar a vida normal.
O sexto dia do ano lembra a visita dos três reis magos ao menino Jesus, que, de acordo com a Bíblia, levaram presentes ao filho de Deus e continuaram seus caminhos.
A cultura popular recria a cada ano essa história nesta data: é o dia de receber a Folia de Reis, ou o Reisado em casa, como uma última visita ao presépio.
Em cada canto do país, essa manifestação popular, que começa no dia 1º do ano e encerra no Dia de Reis, ganha formas diferentes. As configurações regionais da Folia variam em decorrência do sincretismo da tradição religiosa com as culturas pagãs de cada local.
No cerrado brasileiro (região que coincide com o centro do país), são os catireiros – foliões que cantam e dançam ao som da viola caipira – que visitam as pessoas. No Nordeste, os reisados e as lapinhas – representações vivas dos presépios – comandam o folguedo. Outras expressões, como o bumba-meu-boi, o congo e a chegança fazem parte das tradições que se vêem nesta época do ano em todo o Brasil.
Em Plananaltina, cidade mais antiga do Distrito Federal, o grupo Folia de Reis mantém a tradição viva há 35 anos. São cerca de 30 foliões que aprendem, ainda crianças, a dançar a catira e a tocar caixa e viola. Durante o dia, eles visitam quem tem presépio em casa e, em cada visita, levam as cantorias, danças e ensinamentos da tradição aos mais jovens. Às 19h, chegam a uma casa que eles chamam de “pouso”, onde fazem festa até meia-noite.
“Começamos com a saudação ao menino de Deus na lapinha [presépio] e vamos até o agradecimento à janta, passando pelas catiras. O resto é com o povo: folia, bafafá, uma festa”, conta o alferes (responsável por coordenar o trajeto da Folia) Miro Alves.
Nesta casa, o dono oferece um jantar a todos. Pela tradição, que começou na zona rural, eles deveriam ficar a noite toda, mas nas cidades, hoje, só é possível ficar até este horário. O pouso, de acordo com Miro, reúne até mil pessoas. Na manhã do dia seguinte, eles voltam à casa que lhes ofereceu o pouso e tomam café da manhã.
“A folia esteve fraca e quase acabou, mas voltou e está crescendo novamente”, conta o folião Joaquim Ribeiro, conhecido como Seu Quinca. Aos 76 anos e fazendo parte das folias desde os 15, ele é um dos mais antigos do grupo. Entre os oito filhos, três são foliões como ele.
Desde que se mudou para Planaltina, há mais de 20 anos, a goiana Gervaci de Sousa recebe os foliões em casa. Ela acredita que manter a tradição que aprendeu com os pais é importante para sua família de seis filhos e oito netos para que todos “cresçam com aquela fé que trouxemos lá de trás. A fé aumenta. Todos os filhos, netos, noras adoram. Graças a Deus”.
De acordo com o Dicionário do Folclore Brasileiro, de Câmara Cascudo, a Folia teve início na Europa e permanece na península ibérica (Portugal e Espanha), sendo esta a data da troca de presentes. Segundo Cascudo, os reisados tiveram início na Idade Média, para denominar o cortejo de pedintes que cantavam versos religiosos ou humorísticos nesta época do ano. Pesquisadores do reisado pedem o seu registro como patrimônio cultural imaterial brasileiro.