sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Goiano é escolhido brasileiro imortal

O Popular


Baunilha mole, que será batizada como Vanilla bertrani Almiro Marcos Do Rio de Janeiro
O historiador goiano Paulo Bertran, morto em outubro de 2005, é um dos seis ganhadores do Prêmio Brasileiro Imortal, criado pela companhia siderúrgica Vale, antiga Vale do Rio Doce. Ele concorreu diretamente com outros dois nomes e foi escolhido por votação pela internet e vai dar nome a uma espécie nova de orquídea descoberta na Reserva Natural Vale, em Linhares (ES). A nova planta, mais conhecida como baunilha mole, por enquanto é chamada da Vanilla sp. nov. (de espécie nova) e deve ser batizada de Vanilla bertrani (o nome ainda será definido oficialmente) em homenagem ao goiano. Além de Paulo Bertran, escolhido pela região Centro-Oeste, os outros homenageados foram José Hamilton Ribeiro (nacional), Tom Jobim (Sudeste), Raquel de Queiroz (Nordeste), Zeneide Lima (Norte) e Miguel Krigsner (Sul). Todos eles têm trabalhos relacionados com o meio ambiente. Outra homenageada foi a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, morta recentemente. Concorrendo com o ambientalista Ezechias Paulo Heringer (criador do Parque de Águas Emendadas, em Brasília) e com o escritor Manoel de Barros (mais conhecido como o Poeta do Pantantal), o goiano recebeu a segunda maior votação proporcional do País, com 70% das indicações dos internautas. "Antes disso eles já tinha passado por uma intensa seleção com pessoas ligadas ao meio ambiente, que definiu os três finalistas", explica o diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli. O filho de Paulo Bertran, o biólogo André Gustavo Bertran, de 21 anos, ficou surpreso quando o nome do pai foi anunciado como o vencedor. "A gente não esperava por isso. Foi como se eu estivesse recebendo um Oscar. É uma homenagem ímpar que serve também para trazer à discussão a ameaça que o Cerrado vem sofrendo", disse sorridente, enquanto era felicitado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Seu pai foi um bom homem", resumiu o tucano. André Bertran lembra que um dos sonhos do pai era que justamente o Cerrado fosse valorizado pela importância que possui. "A homenagem vai servir para manter vivo o trabalho que o meu pai desenvolveu ao longo da sua carreira acadêmica e das suas pesquisas de campo", comenta André, que é um dos três filhos do pesquisador. Maria Helena Bertran Chaibub, mãe de Paulo Bertran, também estava emocionada. "É muito justo pelo trabalho que o Paulo fez", resumiu. Como biólogo, André fica exultante com a premiação. "Imagina, vou poder estudar uma espécie que traz o nome do meu próprio pai. Mas é uma grande coisa!", afirma, acrescentando que pretende se especializar em biologia da conservação. A planta A planta que vai levar o nome de Paulo Bertran pertence à família das orquidáceas e foi descoberta pelo pesquisador Cláudio Nicoletti na Reserva Natural Vale, área de conservação de Mata Atlântica. A planta é trepadeira e pertence a um gênero que congrega cerca de 50 espécies, todas de zonas tropicais. O botânico a classifica como de difícil cultivo por ser uma trepadeira. As pesquisas feitas ainda não podem indicar se sua vagem teria o mesmo sabor apreciado da fava famosa da baunilha. A Vanilla bertrani normalmente tem sete centímetros de diâmetro e suas flores são grandes e de curta duração, podendo morrer 24 horas após terem nascido. Segundo o biólogo, a espécie tem como ambiente de vida o mato. As pétalas são verdes com labelo branco. As folhas são moles. É a única espécie de baunilha que tem estrutura na flor, ou seja, um local onde normalmente é guardado o néctar. As demais espécies descobertas recentemente na reserva são a antúrio mirim (Anthurium), que vai levar o nome de José Hamilton Ribeiro, bico branco (Machaerium), que vai levar o nome de Tom Jobim, antúrio quilhado (Anthurium), com nome de Zeneide Lima, antúrio verdão (Anthurium), que levará o nome de Raquel de Queiroz, cipó caldeira (Salacia), com o nome de Miguel Krigsner, e imbé feliz (Philodendron), que terá o nome de Ruth Cardoso. Além do batismo das espécies, os homenageados também estarão em selos lançados ontem pelos Correios. As imagens dos selos foram criadas pela ilustradora Dulce Nascimento. As ilustrações retratam as espécies e vêm com a indicação do nome dos homenageados. (O repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite da Vale/Colaborou Rogério Borges)PERFILPaulo Bertran Wirth Chaibub Nasceu em Anápolis em 1948. Graduou-se em Economia e fez doutorado em História em Estrasburgo (França). Dedicou a maior parte da sua carreira ao estudo da formação do Centro-Oeste brasileiro, em especial de Goiás. Foi o responsável pela criação do termo eco-história. Foi professor da Universidades Federal de Goiás (UFG) e Universidade Católica de Goiás (UCG) e da Universidade de Brasília (UnB). Ele participou diretamente dos trabalhos que levaram ao reconhecimento da cidade de Goiás como Patrimônio da Humanidade e também do tombamento do conjunto art déco de Goiânia e do tombamento do conjunto arquitetônico de Cáceres (MT). Dentre suas obras constam: Formação Econômica de Goiás (1979), Memória de Niquelândia (1985), Uma Introdução à História Econômica do Centro-Oeste do Brasil (1988), História da Terra e do Homem no Planalto Central (1994), Notícia Geral da Capitania de Goiás (1997), História de Niquelândia (1998), Cerratenses - poesia (1998) e Cidade de Goiás (2002). Hipertenso e diabético, Paulo Bertran morreu precocemente em Goiânia aos 56 anos no dia 2 de outubro de 2005. Ele foi sepultado na cidade de Goiás. Nos últimos dias de vida, o escritor estava na antiga capital goiana fazendo uma das coisas que mais gostava: pesquisas sobre o Cerrado para novos trabalhos que preparava.

Mara Cristina Moscosomaramoscoso@gmail.comFórum de ONGs Ambientalistas do DFhttp://informe-ambiental.blogspot.com/

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