Artigo publicado no Jornal do Brasil - Autoria de Jean Galard é professor e diretor cultural do Museu do Louvre, em Paris.Participou de um recente seminário sobre artre contemporânea realizado no Museu Vale do Rio Doce, em Vila Velha (ES).
" Nas últimas décadas, os recursos técnicos de que dispõe a humanidade multiplicaram-sede modo acelerado. Paradoxalmente, se aprofundou o sentimento da impotência humana diante do curso dos acontecimentos. É impossível delinear o cenário da arte contemporânea, por vários motivos. O primeiro, o mais banal, é que tudo que é contemporâneo foge das definições panorâmicas, pelo simples motivo de que falta distanciamento para tanto.
O segundo é o que o territòrio da arte contemporânea foi extraordinariamente ampliado, a exemplo das bienais, que se multiplicaram por cem nas duas últimas décadas. E, por fim, o que foi chamado de pós-moderno acabou com as normas que regiam, bem ou mal, a arte moderna.
Não há mais "tendência". Esse é o cenário da arte contemporânea. A impressão que sente quem considere os períodos mais ou menos recentes da atividade artística, e que viaje um pouco(nem que seja apenas pela internet), é de que nunca houve tanta diversidade, nem tanta liberdade de invenção. Alguns observadores competentes não cansam de repetir que a vida artística se "globalizou" como orestante da atividade econômica e que se vê a mesma coisa em todo lugar. Sim, com certeza, mas para quem se limita em olhar nas instituições dominantes as obras que subjugam o mercado.
A arte, ao longo do século XX, produziu obras às quais o antigo conceito de beleza não podia mais ser aplicado. Há muito tempo, a arte renunciou a encantar, a seduzir, a decorar, a agradar. Um dos desdobramentos dessa evolução está na violência com a qual as obras mais memoráveis do nosso tempo vêm jogar na nossa cara o testemunho da violência do mundo. Testemunho inútil, já que nada podemos fazer? Testemunho útil, sim, pois, globalmente nos tornamos menos ignorantes, menos broncos."