terça-feira, 13 de maio de 2008
Mistério negro
À Abdias Nascimento, líder da causa.
Meu país negro,
Tão cheio de cores,
Totalmente negro,
Desde a estupidez flutuante
Sobre tenazes de ferro
Inspirando os salsos tão brancos
Das montanhas de açúcar,
Dos fardos de algodão,
Dos punhos engomados da sociedade ser-vil.
Meu país negro,
Tão cheio de dores,
Totalmente negro
Na insensatez hiante
Sobre espirais de fumo,
Delirando ternuras brandas
No auge de abolição,
No mito da integração,
Nos sulcos magoados da república sutil
Meu país negro,
Tão cheio de amores.
Totalmente negro
Na tez dominante
Sobre os corpos gemidos
Inspirando suaves mentiras
Sobre a cordialidade,
Sobre a maldade,
Nos falsos argumentos de uma democracia senil
Meu país negro,
Sorrisos negros, negras em flor
Tão cheio deles por todas partes
Tão cheio deles por todas as artes
Cheio de negros em fétidas prisões
Cheio de negras na branca perdição
Cheio de meninos negros à espera da maldição
E só um carnaval para redimi-los.
Cumpri-los
em sua impenetrável ambição.
Paulo Timm , 2007