terça-feira, 29 de março de 2011

A dor da rejeição

Estudo indica que o sentimento de rejeição após o fim de um relacionamento amoroso e a dor física ao se machucar ativam as mesmas regiões no cérebro (reprodução)


A dor da rejeição não é apenas uma figura de expressão ou de linguagem, mas algo tão real como a dor física. Segundo uma nova pesquisa, experiências intensas de rejeição social ativam as mesmas áreas no cérebro que atuam na resposta a experiências sensoriais dolorosas.

“Os resultados dão novo sentido à ideia de que a rejeição social ‘machuca’”, disse Ethan Kross, da Universidade de Michigan, que coordenou a pesquisa.

Os resultados do estudo serão publicados esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

“A princípio, derramar uma xícara de café quente em você mesmo ou pensar em uma pessoa com quem experimentou recentemente um rompimento inesperado parece que provocam tipos diferentes de dor, mas nosso estudo mostra que são mais semelhantes do que se pensava”, disse Kross.

Estudos anteriores indicaram que as mesmas regiões no cérebro apoiam os sentimentos emocionalmente estressantes que acompanham a experiência tando da dor física como da rejeição social.

A nova pesquisa destaca que há uma interrelação neural entre esses dois tipos de experiências em áreas do cérebro, uma parte em comum que se torna ativa quando uma pessoa experimenta sensações dolorosas, físicas ou não. Kross e colegas identificaram essas regiões: o córtex somatossensorial e a ínsula dorsal posterior.

Participaram do estudo 40 voluntários que haviam passado por um fim inesperado de relacionamento amoroso nos últimos seis meses e que disseram se sentir rejeitados por causa do ocorrido.

Cada participante completou duas tarefas, uma relacionada à sensação de rejeição e outra com respostas à dor física, enquanto tinham seus cérebros examinados por ressonância magnética funcional.

“Verificamos que fortes sensações induzidas de rejeição social ativam as mesmas regiões cerebrais envolvidas com a sensação de dor física, áreas que são raramente ativadas em estudos de neuroimagens de emoções”, disse Kross.

O artigo Social rejection shares somatosensory representations with physical pain (doi/10.1073/pnas.1102693108), de Ethan Kross e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.1102693108.
Fonte: Agência FAPESP

segunda-feira, 28 de março de 2011

Prêmio Pemberton abre inscrições

 A Coca-Cola Brasil lançou a segunda edição do Prêmio Pemberton, que tem o objetivo de estimular pesquisas científicas na área da saúde.

O prêmio destinará um total de R$ 55 mil aos três trabalhos finalistas, dos quais R$ 20 mil irão para a instituição em que for realizada a pesquisa classificada em primeiro lugar.

O pesquisador vencedor também receberá uma viagem aos Estados Unidos para conhecer a sede da Coca-Cola Company, em Atlanta.

Podem concorrer ao prêmio pesquisadores de universidades e instituições de pesquisa em medicina, educação física, nutrição, odontologia e áreas afins.

As inscrições podem ser feitas até 31 de março.
Mais informações e inscrições: www.premiopemberton.com.br
Fonte: Agência FAPESP

sexta-feira, 25 de março de 2011

Fluxos e refluxos da luta contra a discriminação racial no Brasil

O Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em memória dos que tombaram no Massacre de Sharpeville. O crime ocorreu no ano de 1960, na cidade de Johannesburgo, capital da África do Sul, matando 69 pessoas e ferindo outras 186, entre crianças, mulheres e homens negros que protestavam contra a Lei do Passe, que os obrigava a portarem cartões indicativos dos locais por onde podiam circular.

“Menina, se seu pai não pode comprar o material, deixe de estudar e vá aprender a fazer feijoada na casa dos brancos!”

Luislinda Valois tinha nove anos quando ouviu o conselho – quase uma sentença – do professor de artes, porque o pai não tivera dinheiro para comprar o estojo de desenho que ele pedira. Mais de meio século depois, o que parecia ser resquício retardado do Brasil escravista se repete, com a mesma personagem, evidenciando a necessidade de reflexão sobre uma das maiores mazelas de nossa sociedade: a discriminação racial.

“Natália do Vale enche de mimos a camareira.”

Este último texto-sentença, postado em um site caça-estrelas em 2010, pretendia descrever a foto tirada pela juíza Luislinda Valois durante as gravações da homenagem a ela prestada pela novela Viver a Vida, da Rede Globo de Televisão. Ironicamente, pela história de superação que ela encarna; pela capacidade demonstrada de vencer as barreiras impostas pelo tipo de preconceito destilado por seu professor primário…

Em outras palavras, sem informação sobre quem estava em companhia da atriz, a colunista do site não teve escrúpulos em atribuir à juíza um dos lugares “naturalmente” destinados aos negros pelo racismo cultural de parte da sociedade brasileira – o que ilustra a complexidade dos dispositivos que colocam em funcionamento, de modo automatizado, a discriminação racial no País. Voltemos ao tempo da garota Luislinda.

“Não vou fazer feijoada pra branco, não. Vou é ser juíza e lhe prender!”

A Luislinda de hoje não encarcerou o professor que fizera chorar a menina de ontem, mas parte da promessa foi (está sendo) cumprida. E dentre seus inúmeros feitos em defesa da cidadania dos negros e das negras, está a primeira sentença proferida contra um ato racista no Brasil – um precedente jurídico que imprimiu avanços significativos na luta contra a discriminação.
Em síntese, os proprietários do site foram processados e condenados a pagar indenização em dinheiro e a inserir, durante um ano, conteúdos de valorização da cultura negra em seu espaço virtual. Mas o episódio é revelador: se uma negra de tamanha estatura intelectual e ética não escapou desse tipo de violência, o que dizer de negros e negras sem poder econômico e simbólico? Por eles, Luislinda voltou a chorar.

“Chorei, desta vez, pelas meninas negras que não serão juízas, porque não deixarão que o sejam.”

A história de Luislinda Valois é emblemática. Ao demonstrar como a mensagem humanista da macroesfera de poderes foi sobrepujada por uma prática discriminatória, expõe o modo de operação do racismo verde-e-amarelo, deslocando-o da perspectiva meramente ideológica, ou discursiva, para inseri-lo no campo das mentalidades – o que significa dizer da cultura [1].

Além de desautorizar análises simplistas sobre esta grave problemática, a sofrida trajetória da juíza esboça uma síntese significativa do combate à discriminação racial, feito de fluxos e refluxos, como registra o presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, em artigo publicado no Correio Braziliense; e atesta o levantamento realizado pelas jornalistas Daiane Souza e Denise Porfírio.

No Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, esta e outras histórias desvendam a intrincada rede de poderes, fazeres e dizeres que tece o extermínio cultural e físico dos afro-brasileiros – as maiores vítimas de homicídio no Brasil, como registrado na reportagem da jornalista Joceline Gomes. Uma realidade que deve constar das prioridades das celebrações durante 2011, instituído como o Ano Mundial dos Povos Afrodescendentes.
Fonte: fundação palmares
Por Suzana Varjão

quarta-feira, 23 de março de 2011

CINEMA NA PLACA: UMA EXPERIÊNCIA COLETIVA DE VER CINEMA

CEICINE
COLETIVO DE CINEMA EM CEILÂNDIA

APRESENTA

Debate-reivindicação-exibição para a construção de um cinema público em CEILÂNDIA e um curso continuado de cinema que atenda a comunidade local.

Da Produção a exibição, os caminhos da cadeia cinematográfica.

Exibição de filmes em 35 mm e digital, debates, proposições e diálogos que objetivem a sala de cinema.

LOCAL: CENTRO CULTURAL DE CEILÂNDIA, ao lado da ESTAÇÃO DO METRÔ (ESTAÇÃO CEILÂNDIA NORTE, PENÚLTIMA ESTAÇÃO DE CEILÂNDIA)

Presenças confirmadas:

Breitner Luiz Tavares ( pesquisador)
CEICINE( COLETIVO DE CINEMA EM CEILÂNDIA)
Igor Barradas ( cineasta)
Josiane Osório(coordenadora do festival de filmes curtíssimos de festivais)
Julia Zakia( cineasta)
Maria do Rosário Caetano (jornalista e pesquisadora de cinema)
Sérgio Borges (cineasta)
Sílvio Tendler(cineasta)
Thiago Mendonça (jornalista e cineasta)

FILMES.

DIAS DE GREVE – CEICINE – 24 minutos 35mm

ENCONTRO COM MILTON SANTOS OU O MUNDO GLOBALIZADO VISTO DO LADO DE CÁ – SILVIO TENDLER – 89 Minutos 35mm

MINAMI EM CLOSE UP – THIAGO MENDONÇA – 18 minutos 35mm

O CÉU SOBRE OS OMBROS – SÉRGIO BORGES – 72 minutos – 35mm

QUEIMADO- IGOR BARRADAS- 19 MINUTOS, Vídeo.

RAP O CANTO DA CEILÂNDIA – ADIRLEY QUEIRÓS – 15minutos 35mm

TARABATARA – JULIA ZAKIA – 23 minutos 35mm

Seminários.

Dia 25/03, sexta-feira

Mesa 01. HORÁRIO 14:30 hs.

Experiência coletiva do cinema: uma necessidade de salas públicas.

Mediador - Thiago Mendonça

Debatedores - Adirley Queiróz / Julia Zaka / Maria do Rosário Caetano/Hamilton Pereira(Secretario de Cultura do Distrito Federal)/Nina Velez.

Mesa 02. Horário 16:30hs.

Políticas Públicas para distribuição de cinema: Como fazer chegar ao público a grande variedade e quantidade de filmes produzido no Brasil.

Mediadora - Maria do Rosário Caetano

Debatedores: Silvio Tendler / Sergio Borges / Thiago Mendonça/ e representante do SAV .

Dia 26/03, sábado

Mesa 03. HORÁRIO 14:30 hs

Cinema e educação - por uma escola de cinema na Ceilândia

Mediadora - Maria do Rosário Caetano

Debatedores: Breitner Tavares, Igor Barradas, representante da UnB, representante da secretaria da educação.

Mesa 04. HORÁRIO 16:30 hs

Cinema e Produção: Dos coletivos de cinema à busca de novas linguagens que possibilitem outra perspectiva de produção/representação.

Mediador: Thiago Aragão.

Debatedores: Julia Zakia / Igor Barradas / Ceicine / Josiane Osório.

Objetivos de debates da mesa 01 e mesa 02:

Nestas mesas, proporemos reflexões sobre a ausência de uma sala de cinema em CEILÂNDIA, o absurdo de uma cidade com quase meio milhão de habitantes estar alijada da possibilidade de ver, discutir e refletir o cinema de forma coletiva e ampla.

Aproveitando a convergência deste tema com a atual discussão nacional no audiovisual cuja preocupação é como distribuir a grande quantidade e variedade dos filmes nacionais produzidos, proporemos também a ampliação do debate para a importância da implantação de novas salas de

cinema pelo Brasil afora que possa atender a esta demanda de exibição dos filmes nacionais.

Pensamos em uma sala de cinema em CEILÂNDIA que dialogue com uma necessidade brasileira no audiovisual e não como um fato isolado e único.

Como exibir essa grande quantidade de filmes produzidos no Brasil? Afinal, as possibilidades de exibição no formato "cinema tradicional" são, infelizmente, cada vez mais restritas as salas de shoppings, que são poucas e que atendem basicamente a um tipo de mercado específico do cinema. Propomos uma discussão que passe pelos caminhos da realização cinematográfica: Produção, distribuição e, principalmente, exibição.

Objetivos de debates da mesa 04 e mesa 03:

Aqui estaremos discutindo as possibilidades reais de criação de um curso continuado de cinema na cidade. Um curso que atenda à comunidade, que reflita nossas experiências individuais e coletivas e que possa se materializar em outra possibilidade de produção e interferência em toda a cadeia produtiva do cinema. Aproveitando deste momento de encontro e de trocas de experiência de alguns coletivos, novos realizadores de festivais e de cineastas que estão lançando seus primeiros filmes em longas metragens, essas discussões pretendem abrir um leque de possibilidades para a formatação dessa escola em CEILÂNDIA.

HORÁRIO DE EXIBIÇÃO DOS FILMES.

25/03, SEXTA-FEIRA A PARTIR DAS 20:00 HORAS.

DIAS DE GREVE – CEICINE – 24 minutos 35mm

MINAMI EM CLOSE UP – THIAGO MENDONÇA – 18 minutos 35mm

O CÉU SOBRE OS OMBROS – SÉRGIO BORGES – 72 minutos – 35mm

26/03, SÁBADO A PARTIR DAS 19:00 HORAS.

QUEIMADO- Igor Barrada- 19 minutos- Vídeo.

RAP O CANTO DA CEILÂNDIA – ADIRLEY QUEIRÓS – 15minutos 35mm

TARABATARA – JULIA ZAKIA – 23 minutos 35mm

ENCONTRO COM MILTON SANTOS OU O MUNDO GLOBALIZADO VISTO DO LADO DE CÁ – SILVIO TENDLER – 89 Minutos 35mm

quarta-feira, 16 de março de 2011

Supermoon um perigeu luna 19 de Março

Esta semana, 19 de março 2011, teremos a oportunidade de ver a lua mais próxima da terra do que jamais tivemos a oportunidade nos últimos 20 anos.

É possível que a proximidade da lua esteja alterando o comportamento das placas tectônicas terrestres, causando o terremoto que gerou o tsunami no Japão e inclusive a alteração do eixo terrestre em 10 centímetros.
O grau de influência da lua é tremenda em relação ao mar e a terra.


O que é um Supermoon? Também conhecido como um perigeu lunar , é quando a Lua atinge o ponto mais próximo da Terra em sua órbita. No sábado 19 de março a Lua estará no ponto mais próximo é a terra em 18 anos.

Há colocar de especulação sobre os efeitos que isso tem sobre a terra como terremotos, atividades vulcânicas e maremotos. Mas uma coisa é certa, neste sábado, a Lua será maior e mais brilhante do que ele tem 18 anos. Portanto, definir o céu noturno sobre a 19 de março e se prepare para uma grande noite de Lua assistir!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Festival Internacional de Cinema Ambiental recebe inscrições até dia 26

Brasília - Terminam na próxima sexta-feira (26) as inscrições para o 12° Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica), que neste ano será realizado de 8 a 13 de junho na Cidade de Goiás (GO). Até o início desta semana, 209 filmes de 44 países estavam inscritos na primeira etapa de seleção do festival.


As inscrições podem ser feitas pelos Correios. O regulamento e a ficha de inscrição estão disponíveis na página do festival na internet, no endereço www.fica.art.br

Podem concorrer documentários, obras de ficção, séries para televisão e animações com temática ambiental produzidos a partir de janeiro de 2008. O festival recebe produções em filme e vídeo, de cineastas profissionais e amadores.

Considerado o maior festival de cinema do gênero na América Latina, o Fica vai distribuir R$ 240 mil em prêmios em sete categorias. A principal, entregue ao destaque do festival, tem prêmio de R$ 50 mil.

Em 2009, o vencedor foi o documentário Corumbiara, de Vincent Carelli. O filme mostra o massacre de um grupo de índios isolados na gleba Corumbiara, em Rondônia, na década de 1980.

Fonte: Agência Brasil
Repórter: Luana Lourenço

quinta-feira, 10 de março de 2011

Projeto ENCONTRO SONORO

com:

Carlinhos Piauí & Cleyson

no Espaço Cultural Bagagem
12/03/2011 as 21hs Entrada Franca
Livre para todas as idades
Endereço: QUADRA 40 LOJA 16 SETOR CENTRAL - GAMA-DF

REALIZAÇÃO: Associação Cultural SONART
PRODUÇÃO: CENAS & SONS Produções Culturais
APOIO: ESPAÇO CULTURAL BAGAGEM
PATROCÍNIO: FAC - Fundo de Apoio à Cultura da SECRETARIA DE CULTURA DO DF
MAIS INFORMAÇÕES: (61) 3022 4300 / 8123 1935 / 9270 5602

quinta-feira, 3 de março de 2011

Movimento da senzala

Referência na historiografia brasileira, livro O Plano e o pânico: os movimentos sociais na década da Abolição, ganha edição revista (Imagem: J.B. Debret)



Com base na historiografia tradicional, o abolicionismo e o fim da escravidão no Brasil foram interpretados por muito tempo como processos elitistas, nos quais o escravo aparecia como um personagem passivo. O livro O Plano e o pânico: os movimentos sociais na década da Abolição, que acaba de ganhar sua segunda edição, revista, vem contribuindo desde 1994 para mudar essa visão.

O fim da escravidão foi resultado de uma cultura política gestada no cotidiano do trabalho nas senzalas, de acordo com a obra, fundamentada em pesquisa realizada a partir de múltiplas fontes por Maria Helena Toledo de Machado, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com Maria Helena, a tese central do livro – que teve origem em sua pesquisa de doutorado, concluída na USP em 1991 – é que os escravos não tiveram um papel passivo no processo que culminou com o fim da escravidão, que não teve nada de elitista, ao contrário do que deixava transparecer a historiografia abolicionista.

“Os escravos tiveram ampla participação no processo, em um movimento que também envolveu trabalhadores livres pobres e imigrantes. A atuação dos líderes abolicionistas só é compreensível como parte de um contexto de uma cultura política que teve origem nas senzalas, com a tensão social causada por sucessivas fugas em massa ao longo da década de 1880”, disse à Agência FAPESP.

Segundo a historiadora, o objetivo do livro era analisar a atuação dos escravos no processo de abolição, no período entre 1880 e 1888, no contexto paulista. Para isso, além de consultar uma bibliografia internacional, ela realizou uma pesquisa inédita considerando acervos judiciários e a documentação da polícia em cidades paulistas.

“Tratava-se de uma documentação massiva, com milhares de documentos que mapeei para selecionar apenas o que se referia aos escravos. A partir dessa seleção, valorizei os casos que relatavam revoltas, fugas em massa, homicídios, invasões de cidades e outros movimentos de maior impacto”, afirmou.

A pesquisadora, então, visitou diversas cidades paulistas, consultou cartórios locais e levantou processos criminais relacionados aos eventos que estavam listados na documentação oficial da polícia.

“Além disso, encontrei no Arquivo do Estado, pela primeira vez, o livro de reservados da polícia – onde eram registrados os fatos que não podiam ser divulgados para o público. Colhi os relatórios mais gerais dos chefes da polícia, dos presidentes das províncias e dos jornais da época”, disse Maria Helena.

No ano de 1885, por exemplo, os relatórios do chefe de polícia de Campinas relatavam que havia sido um ano tranquilo, sem maiores problemas a não ser pequenas ocorrências pontuais com escravos. Enquanto isso, o livro de reservados registrava um cenário certamente mais próximo da realidade: a cidade estava em perigo iminente com as fugas em massa de escravos.

“Percebi que os jornais eram censurados e retratavam uma versão rósea da realidade que a polícia de fato estava enfrentando. Acompanhei diversos estágios da produção dos eventos. Desde os primeiros telegramas, nos quais os fazendeiros pediam socorro ao subdelegado depois da invasão da sede de uma fazenda por escravos armados, passando pela notificação de cada autoridade, até chegar ao desenrolar do conflito e à divulgação nos jornais”, disse.

Onda de pânico

A historiadora descobriu revoltas de escravos que não haviam sido documentadas anteriormente. Uma delas, abortada, estava planejada para ser realizada em Resende (RJ), em 1881. Os registros diziam que um homem branco conhecido como Mesquita tinha chegado dos Estados Unidos e estava organizando uma revolta de escravos sem precedentes.

“Ele orientava os escravos a roubar armas dos senhores, a cortar os fios dos telégrafos e a roubar cavalos. Planejava articular uma ação orquestrada e formar uma excursão para a corte, no Rio de Janeiro, a fim de exigir a abolição da escravidão. Vários episódios mostravam grande movimentação social naquela década – entre São Paulo e Rio de Janeiro – com participação ativa dos escravos”, disse Maria Helena.

Outra revolta estudada foi organizada em 1882, em Campinas (SP), e chegou a ser realizada, embora em dimensão menor que a planejada. Liderada por um escravo liberto chamado Felipe Santiago, essa revolta foi associada à organização de uma seita religiosa denominada Arásia.

“Os adeptos tinham iniciações, recebiam novos nomes e eram marcados no corpo em ritos iniciáticos. Esses escravos haviam comprado armas e invadiram a cidade de Campinas em uma ação muito violenta. Esse tipo de episódio dissipa a ideia de que a abolição foi uma libertação passiva, ou um protesto irracional e apolítico dos escravos”, contou.

O título do livro – O Plano e o pânico –, segundo Maria Helena, remete à organização deliberada das revoltas arquitetadas por escravos e à onda de pânico por elas espalhada entre os escravistas.

“Depois da revolta de Resende em 1881, houve vários outros episódios e o pânico se espalhou pelo território paulista. O medo era tamanho que, em Bananal, por exemplo, as pessoas chegaram a abandonar as fazendas e fugir para a cidade. As polícias paulista e fluminense, despreparadas, sem armamentos, sem treinamento, viram-se sob o risco palpável de eventos violentos durante toda a década”, disse Maria Helena.

•O Plano e o pânico: os movimentos sociais na década da Abolição
Autor: Maria Helena Toledo de Machado
Lançamento: 2011
Preço: R$ 37
Páginas: 248
Mais informações: www.edusp.com.br

Fonte: Agência FAPESP
Por Fábio de Castro

terça-feira, 1 de março de 2011

Pequena notável

Victória Rossetti, recentemente falecida, é homenageada por amigos e pesquisadores em cerimônia no Instituto Biológico.

Victória Rossetti (1917-2010), primeira engenheira agrônoma formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo e reconhecida internacionalmente pelas pesquisas dedicadas às doenças dos citros, foi homenageada na manhã desta segunda-feira (28/2), no Instituto Biológico, em São Paulo.


A cerimônia realizada no auditório do órgão contou com a presença e depoimentos do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, sobrinho da pesquisadora, e de Elliot Watanabe Kitajima, professor aposentado da Esalq.

Falecida aos 93 anos, em 26 de dezembro de 2010, por conta de uma pneumonia, a engenheira fez carreira no Instituto Biológico, onde ingressou como estagiária em 1940 e lá trabalhou durante 60 anos.

Considerada uma das maiores autoridades em fitopatologia no Brasil e no exterior, a pesquisadora deixou como legado mais de 450 trabalhos na área – entre os quais destacam-se artigos científicos, de divulgação e boletins técnicos, além de dois livros –, principalmente sobre doenças que atingem as plantas cítricas.

Nascida em 15 de outubro de 1917, em uma fazenda em Santa Cruz das Palmeiras, no interior paulista, Veridiana Victória Rossetti aprendeu com o pai os segredos de sua futura profissão. Da mãe Lina, que era pianista, Victória herdou o amor pelas artes.

O chefe da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) de Sorocaba, Eduardo Feichtenberger, fez uma retrospectiva da carreira da cientista, citando alguns dos prêmios que recebeu em vida.

Em 2004, condecorada com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico pelo presidente da República, recebeu do Estado de São Paulo o título de Servidora Emérita e, da Esalq, a medalha Luiz de Queiroz, entre outros prêmios nacionais e internacionais.

Feichtenberger ainda lembrou a participação de Victória em associações e outros órgãos, como a representação do Brasil no Comitê Executivo da Sociedade Internacional de Citricultura e no Comitê Internacional de Estudos sobre Phytophthora. Ela também foi presidente da Organização Internacional Virologistas de Citros, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e integrou diversas comissões na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

O evento contou também com a presença dos sobrinhos Mário de Moraes Rossetti e Renato Rossetti, e dos amigos Antônio Batista Filho, diretor- geral do Instituto Biológico, e Orlando Melo Castro, coordenador da APTA.

“Victória se destacou pelo diferencial que sempre fez pela agricultura paulista e brasileira na área de sanidade vegetal. Pesquisadores nessa área são fundamentais para que possamos produzir cada vez mais e melhor e foi ela que, ao lado de outros pioneiros, montou a base de sanidade vegetal no Brasil”, disse Castro.

A cerimônia terminou com as palavras do filho de sua irmã mais velha, o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e ex-ministro Roberto Rodrigues.

Em seu breve discurso, Rodrigues relatou que conviveu com a pesquisadora em três oportunidades: como sobrinho, como colega de trabalho e como secretário de Agricultura do Estado de São Paulo.

“Ela lutou muito por aquilo em que acreditava. E mesmo em suas mais difíceis lutas, ela teve uma alegria enorme de viver, uma característica rara nas pessoas devido às pressões do dia a dia”, disse.
Fonte: Agência FAPESP
Por Mônica Pileggi

Área de Preservação Ideológica!!!

Bem vindos a Área de Preservação Ideológica!
http://www.sitecurupira.com.br/